O
óleo de Lorenzo
...é
preciso manter os fortes, dizendo-lhes que o bem é tudo o que
fortalece o desejo da vida e é mal tudo o que é contrário a esse
desejo. Niestzsche (1844-1900)
Essas
palavras de Niestzsche, penso que reproduzem a situação por que
passaram os pais de Lorenzo, conforme o filme: “O Óleo de
Lorenzo”, produção norte americana de 1992, distribuído pela
Universal Pictures e direção de George Miller, pois pela atitude
desses (os fortes), e acima do determinismo científico, quanto ao
diagnóstico do menino, que buscaram salvar o filho, ante a conclusão
do médico, que dizia ser o diagnóstico conclusivo, isto é, como se
esse fosse uma verdade inquestionável, absoluta, sobre a morte de
Lorenzo Odone em no máximo dois anos, sendo que tal produção
cinematográfica, ocorre em função de uma situação real, que nos
remete ao debate entre, o mito da ciência que tudo resolve e
sentencia; mas que trata-se somente de um discurso, (como no caso do
filme), como observou-se na película cinematográfica, que
valendo-se do senso comum (que também é importante para a
filosofia, para desmitificar algumas ditas verdades), e/ou ao
autodidatismo do pai de Lorenzo, que no caso penso, também não
aceitou o prognóstico científico como se tudo estivesse acabado,
pressupondo-se que também nessa situação, muito do senso comum
esteja associado à atitude dos pais do jovem, mas que também não
abandonaram à ciência, pois através do autodidatismo, conseguiram
fazer com que a doença não progredisse, o que nos faz refletir,
também sobre o método científico.
Mas essa problemática sobre
medicina e cientificismo, que é uma crença infundada de que a
ciência tudo conhece, começa segundo CHAUI: com os gregos quando
transformam em ciência, aquilo que eram elementos de uma sabedoria
prática para o uso direto na vida e transformaram em medicina,
aquilo que eram práticas de grupos religiosos secretos para a cura
misteriosa das doenças. Mas no curso histórico da filosofia, outra
discussão importante, é quanto ao método científico, que tem
raízes no empirismo (ou seja, que baseia-se na experiência, no
sensível), que nesta situação, pode-se pensar que o médico, face
sua experiência e pelos exames mecânicos/tecnológicos disponíveis,
sentencia o jovem há poucos meses de vida, fato que não é aceito,
frente a determinação dos Odone, que ao contrário de Descartes,
que era...cético ante das possibilidades dos erros e ilusões dos
sentidos humanos. sendo esse um dos motivos da criação do chamado
método científico, que segundo o filme, assim agiu o douto,
descartando possibilidades quanto à melhora do paciente, fato que
não ocorreu, visto que o já então adulto, veio a falecer de uma
broncopneumonia, contrariando assim uma visão cartesiana do médico
ou da medicina, que racionaliza às doenças, como partes, separando
o corpo humano, como se fosse uma máquina, em que, se uma das
“engrenagens” atrofia-se ou adoece, todo o resto do organismo
também se deteriora, visão essa que penso, ser desumanizante.
Mas
tentando relacionar, estes fatos com a filosofia, viemos a pensar,
que o médico e à ciência tem seus limites, no transcendentalismo
de Kant, que procurava um caminho entre o racionalismo e o empirismo,
quando questionava: Qual é o verdadeiro valor dos nossos
conhecimentos e o que é conhecimento? seguindo essa problemática, e
diante da doença de Lorenzo, também podemos questionar, qual o
valor do conhecimento da ciência/do médico e qual o valor do
conhecimento dos pais do jovem enfermo, pois na inovação de Kant,
frente aos racionalistas e aos empiristas, estaria que a realidade
não é um dado que o intelecto devia se conformar, mas ao contrário,
que de certa forma participamos da construção dos fenômenos, ideia
que podemos associar a perseverança daqueles que o filme em questão,
trouxe a essa discussão. Diante da discussão sobre o filme, que
mesmo transformado em uma obra cinematográfica, mas baseado em fato
real, podemos questionar a validade do chamado método cientifico,
visão empirista-indutivista de ciência, que continua ainda, sendo
reproduzida, diariamente em nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Ostermann,
Fernanda: A física na formação de professores do ensino
fundamental/Fernanda Ostermann e Marco Antonio Moreira. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 1999.(Coleção Educação Continuada.)